"Tudo em nós está em nosso conceito do mundo; modificar o nosso conceito do mundo é modificar o mundo para nós, isto é, é modificar o mundo, pois ele nunca será, para nós, senão o que é para nós..."           Fernando Pessoa  

                               

Tendo na sua origem a palavra grega hypnos (o deus do sono), o termo hipnose confunde-se frequentemente com sono. No entanto, no estado hipnótico não dormimos, pelo contrário, focamos a nossa atenção mais do que nunca. E podemos concentrar-nos num pensamento, numa memória, numa imagem ou numa sensação. No entanto, todo o meio envolvente –os sons, os movimentos, os cheiros- é percepcionado pela nossa mente, simplesmente não lhe damos importância. 

Trata-se de um momento em que a mente se divide em consciente e inconsciente. O inconsciente toma conta das funções naturais do nosso corpo e o consciente ocupa-se do meio circundante e da nossa relação com ele. Deste modo, durante o transe hipnótico, e após um relaxamento físico e mental, conseguimos concentrar-nos num aspecto do nosso inconsciente ao mesmo tempo que o corpo repousa. Por sua vez, a nossa mente consciente continua a mediar a noção do espaço físico onde nos encontramos. É também a nossa mente consciente que, embora “distraída” de juízos críticos, garante que, mesmo sob o estado de transe hipnótico, agimos em função dos nossos valores pessoais e culturais próprios.

 

O hipnoterapeuta surge como um facilitador desse estado alterado de consciência. Ele é na verdade alguém que nos ensina a fazer uso destas capacidades mentais que todos temos mas que poucos usamos. Para vencer uma fobia ou um problema de foro psicológico-tantas vezes reflectido no nosso corpo físico-, para mudar a perspectiva que temos da vida, é necessário recorrer à sabedoria que encerramos em nós. A sabedoria da nossa mente inconsciente, na maior parte das vezes limitada pela nossa mente consciente, construída a partir das nossas relações com o meio social, familiar, profissional. A mente consciente que nos traz falsos medos, baixa auto-estima, pensamentos pouco saudáveis àcerca de nós próprios e dos outros.

 

A hipnoterapia surge assim não como um tratamento para problemas de foro mental e/ou físico mas como um meio para essa cura. Porque essa cura depende de cada um de nós, da nossa habilidade na activação destas capacidades mentais, na gestão do equilíbrio entre o trabalho da mente consciente e da inconsciente. É esta capacidade inata que pode e deve ser desenvolvida, com o auxílio do hipnoterapeuta, como promotor desta aprendizagem pessoal. É por este motivo que muitos especialistas no campo da hipnose defendem que toda a hipnose é auto-hipnose. Porque só entramos nesse estado de transe se quisermos, e porque somos nós que controlamos todo o processo de cura. O hipnoterapeuta é, digamos assim, o nosso companheiro de viagem nesta descoberta de nós próprios.

 

Quando penso num hipnoterapeuta que nos ajuda a tirar o máximo proveito das nossas potencialidades mentais, imagino alguém que nos ensina a conduzir um automóvel. Embora neste caso se trate de “conduzir”a mente humana, uma “máquina” maravilhosamente mais complexa. Tal como quando aprendemos a conduzir, inicialmente pensamos conscientemente nas manobras a efectuar. Com o tempo, deixamos de precisar do instrutor de condução e, sozinhos, controlamos o motor do carro sem pensarmos conscientemente em cada movimento que fazemos. Deixamos que a nossa mente inconsciente, com essas informações já gravadas, permita que o acto de conduzir se torne uma acção natural, instintiva, que cumpre o seu propósito que é deslocarmo-nos. O mesmo se passa com a hipnoterapia. O hipnoterapeuta ensina-nos a conduzir as nossas mentes-e também os nossos corpos e as nossas vidas- de uma forma natural e instintiva, com a activação dos recursos das nossas mentes inconscientes. Mas, à semelhança do instrutor de condução, o hipnoterapeuta não conduz as nossa mentes por nós. Dá-nos autonomia para o fazermos, assim que essa activação de “ferramentas” mentais for conseguida.

 

Cada um de nós é responsável pelo rumo da sua vida, fruto de cada pensamento, de cada atitude, de cada escolha. Coloque esta questão ao mais profundo do seu Ser: pensa e age de acordo com as suas verdadeiras crenças pessoais ou em função dos medos e das convicções impostos pelo mundo exterior? Pretende um equilíbrio entre as potencialidades da sua mente inconsciente e consciente ou uma predominância do seu consciente?

Reflicta, consciente e inconscientemente: Quer que conduzam a sua vida por si ou quer ser você próprio a conduzi-la?